quinta-feira, 4 de setembro de 2014

MUITO AMOR E POUCO TEMPO


Ando a pensar que o tempo não chega para amar a minha filha. Que tenho cá dentro, muito mais do que mostro.

O tempo que tenho para tratar dela, da casa, do trabalho, impede-me tantas vezes de poder dizer tanto que a amo. Que a venero. Que é tudo. Que é o melhor que fiz nesta vida.

As migalhas no chão obrigam-me a baixar e assim não dá jeito falar. A estender a roupa, a tirar a loiça da máquina, a fazer camas, o jantar, perco o fôlego. Faço estas tarefas quase sempre calada. Mais... Muitas vezes a pedir que vá para o quarto brincar, que está a sujar o que limpei, que me deixe sozinha um bocado, para despachar tudo rápido. Tantas tarefas e os dias passam...

Na verdade, o que queria era não fazer. Era parar tudo, e brincar com ela, simplesmente sentar-me ao lado dela, contar-lhe uma história, passear com ela no jardim até o sol se pôr. Na verdade o tempo não me deixa amá-la em pleno. Na verdade tenho muitas vezes de ignorar o tempo para amá-la. Na verdade já passsou todo este tempo, tão depressa, e não chegou para conseguir mostrar o quanto a adoro.
(Será que ela sabe?)

O tempo, ou antes a falta dele, traz-me stress, pressa, nervos, cansaço, irritação. Retira-me a atenção do essencial. Troca-me as voltas às prioridades. Enche-me de rotinas. Priva-me da beleza. Rouba-me o sono. Só não me leva o amor que sinto por ela.



*Texto adaptado da Rita Ferro Alvim do Socorro Sou Mãe

1 comentário:

Mais miminhos de mães e não só...