Querida filha,
Custa-me contar-te isto, mas tenho que que te preparar da melhor forma possível e alertar-te para o facto de que vives num mundo onde a violência ainda se abate sobre as mulheres, de muitas formas.
Hoje em dia, as mulheres continuam a ganhar menos que os homens por trabalho igual. Ainda acumulam muitas tarefas sem que isso pareça grande coisa. Ainda são uma minoria nos lugares de topo. Ainda são torturadas, violentadas, queimadas em praça pública e espancadas até à morte. Ainda têm filhos em condições desumanas. Ainda não podem divorciar-se de quem já não amam. Ainda são olhadas de lado quando dão demasiado nas vistas. Ainda são questionadas quando decidem destacar-se na sua vida profissional e quando a maternidade não as define, mas apenas as acrescenta.
As mulheres deste teu mundo ainda são perseguidas sem que nada seja feito. Ainda são forçadas a abandonar o lar e todas as suas referências, quando o inimigo está dentro de casa. Ainda não podem estudar, nem chegar onde desejam.
Lamento dizer-te isto filha, mas o mundo onde hoje vives aos teus dois anos, ainda é assim. E muitas das atrocidades de que aqui te falo, existem demasiado perto. Espero e desejo com todo o meu coração que esta realidade seja muito diferente quando fores adulta.
Contudo, quero também dizer-te que esta realidade não pode servir para te assustares, nem para te amedrontares com a inevitabilidade de seres Mulher. Ao contrário, deverá servir para te orgulhares disso. Para ousares seres quem queres ser, sem que nada te limite a vida. É tão bom ser Mulher. E NUNCA, mas NUNCA te deixes mal tratar por ninguém, seja ele quem for. E muito menos por alguém que invoque o amor para o fazer. Amor maior não existe do que aquele que o pai e a mãe têm por ti.
Um beijinho da mãe
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